O processo de onboarding sempre é uma etapa difícil para desenvolvedores e empresas. Para o desenvolvedor, é um momento de conhecer pessoas novas, outra cultura, práticas e se adequar a arquitetura utilizada. Para a empresa, é um momento de integrar alguém a equipe, contextualizá-lo sobre como as coisas funcionam, compartilhar aspectos culturais. É nesse momento que buscamos nos alinhar com o time.
Entrando como desenvolvedor na SourceLevel, não foi diferente. Em um primeiro momento, percebi que teria bastante dificuldade, pois a empresa nesse momento já adotava uma cultura que eu ainda não tinha vivenciado pelos lugares onde passei. Por ser uma startup com um produto voltado à qualidade de código e aprimoramento contínuo de equipes, faz mais que sentido ela adotar boas práticas internas, tanto de desenvolvimento quantos culturais (inclusive esse foi o motivo de eu me candidatar para a vaga).
Eu já havia desenvolvido aplicações em Rails (SourceLevel usa Ruby como linguagem principal), porém cada aplicação Rails tem suas particularidades. Mesmo recebendo acompanhamento de alguém que já está familiarizado com o código nesse processo de onboarding, a melhor forma de você se contextualizar com os padrões e costumes praticados pelo time é lendo o código. Ele é o resultado final. De nada adiantam várias reuniões internas para ajustar questões culturais e técnicas, se no final das contas isso não é transcrito para o código. Portanto, ele sempre vai ser sua melhor referência.
Quando preciso mexer em uma base de código que não conheço, vou explorando os arquivos - abrindo cada um - e lendo, procurando compreender o contexto de cada classe, e como o código foi escrito. Mas essa é uma prática que pode ser acelerada se você analisar as discussões que geraram tal código, as melhorias sugeridas, bem como o código era anteriormente, em outras palavras, como ele evoluiu com o passar dos tempos.
Quando o produto ainda se tratava de uma ferramenta interna da extinta Plataformatec, e ainda chamado Ebert, os desenvolvedores já utilizavam boas práticas. Eram bastante alinhados em questões culturais e faziam revisão de código, mesmo com uma equipe pequena. Muitos consideram como algo desnecessário para equipes pequenas, mas no meu onboarding foi fundamental, pois eu tinha a disposição todo um histórico de discussões e alterações, o que permitiu me contextualizar melhor com as metodologias usadas, o porquê de cada mudança, e qual o contexto em que ela se aplicava.
Então fui abrindo todos os Pull Requests antigos, analisando cada mudança, olhando o diff, vendo a evolução do código, qual a motivação, qual a nomenclatura usada nas branches. Nessas discussões relacionadas à melhoria de código, consegui aprender bastante sobre a forma como o código atual é estruturado, quais padrões deveria seguir, as mudanças de arquiteturas, e com base nesse histórico, saber como deveria escrever o código hoje. Estava tudo ali, devidamente registrado. Cada mudança tinha uma explicação da motivação, e qual era a solução proposta. Isso foi fundamental para mim, e acelerou bastante o meu processo de onboarding, que inclusive foi notado por todos.
Foi uma atividade bem proveitosa, pois consegui até mesmo aprender algumas coisas novas, o que me possibilitou me sentir à vontade no time, sugerir mudanças, discutir soluções e melhorias, sem medo de errar, sem medo de ser julgado.
Quando comecei a contribuir com código, percebi que sempre tinha por ali pessoas interessadas em me ensinar e a aprender, as revisões nos meus Pull Requests eram sempre proveitosas. Tínhamos (ainda temos na verdade) diversas discussões, que sempre acrescentavam bastante à qualidade do código que eu escrevo.
Quando era minha vez de revisar o Pull Request dos outros desenvolvedores, com mais familiaridade com o código e com mais tempo de estrada, eu sempre me sentia retraído, achava que eu não tinha muito a acrescentar, mas isso foi mudando conforme algumas de minhas sugestões estavam sendo aceitas e apreciadas. Portanto, independente se você é um desenvolvedor sênior, pleno ou junior, o processo de revisão de código é sempre enriquecedor, para todos. Como diz a velha frase do matemático e filósofo Blaise Pascal:
“Ninguém é tão sábio que não tenha algo pra aprender e nem tão tolo que não tenha algo pra ensinar”
Hoje, consigo navegar no código e contribuir com clareza, me sinto à vontade para solicitar e ceder revisões, e sei o quão produtiva é a revisão de código em um processo de onboarding. Certamente incluiria essa prática nos próximos onboardings que eu participar e recomendo que todos façam o mesmo.